Nos últimos quatro anos, a necessidade de aumentar a renda familiar, corroída pela inflação e pelo desemprego, acelerou o crescimento da participação das mulheres no mercado de trabalho, movimento observado desde os anos 1990. Entre o terceiro trimestre de 2014 e o mesmo período de 2018, quatro milhões de mulheres decidiram sair de casa para trabalhar, um crescimento de 9,2%, segundo dados da pesquisa Pnad Contínua, do IBGE. No entanto, três em cada quatro delas ainda buscam uma ocupação. E boa parte das que conseguiram trabalho está na informalidade.
Com esse acréscimo em quatro anos, as mulheres já representam 44,6% do mercado de trabalho. Em 2014, no início da crise econômica, elas eram 43,3%. Os homens ainda são maioria, 55,4%, mas esse percentual caiu desde 2014, quando correspondiam a 56,7%. Em quatro anos, o número de homens disponíveis para o trabalho aumentou em ritmo menor, 3,9%, resultando num acréscimo de 2,2 milhões de indivíduos.
— Na crise, mulheres e homens foram afetados pelo desemprego. Mas, enquanto as mulheres têm se mostrado mais persistentes na procura, os homens têm ido para a inatividade — diz Thaís Barcellos, economista da Consultoria iDados.
Essa maior resiliência, segundo especialistas, está ligada a dois fatores: a maior escolaridade feminina — elas já são maioria no ensino superior — e os movimentos por igualdade de gênero, que se acentuaram no mesmo período da recessão. Regina Madalozzo, economista do Insper especializada na atuação da mulher no mercado de trabalho, diz que as mulheres ganharam mais confiança:
— Um grupo maior de mulheres desempregadas, ainda que seja uma estatística triste, tem uma perspectiva positiva. Se elas foram buscar trabalho, é porque se sentem capazes de conquistar uma vaga — diz Regina, para quem o avanço da escolaridade é um importante instrumento de inclusão da mulher. — Um exemplo é a Coreia do Sul. Mesmo sendo um país mais conservador, em que depois de ter filhos as coreanas tendem a ficar mais tempo fora do mercado, nas crises econômicas elas voltam mais rapidamente ao trabalho em razão do alto nível de instrução, que lhes traz confiança de êxito.
Hoje, no Brasil, do total de mulheres com idade para trabalhar (acima de 14 anos), 52,5% estão no mercado, segundo o IBGE. Esse percentual cresceu em relação a 2014, quando era 50,4%, e é maior que a média mundial atual para elas (48,5%), segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
As mulheres que conseguiram uma ocupação durante a crise não ganharam postos que os homens perderam. Elas estão criando os seus próprios empregos. Fazendo sabonete artesanal, biscoitos, roupas
Lucilene Morandi