Coordenadora do Núcleo Transdisciplinar de Estudos de Gênero da UFF, a economista Hildete Pereira de Melo atribui a efervescência atual do movimento feminista a uma retomada e um crescimento da causa nas universidades, que tiveram sua população ampliada no país neste século. Pioneira nos estudos de gênero na UFF, na década de 1970, ao lado de Raquel Soihete, Sueli Gomes Costa e Felisberta Trindade, a professora destaca mudanças na instituição, com maior engajamento no meio acadêmico.
— Naquela época não falávamos em gênero, mas em estudos da mulher, e era uma heresia. Hoje, a UFF tem núcleos de professoras que se multiplicaram em todos os cursos para discutir questões de gênero, sem contar o número de estudantes engajadas, que só aumenta. Eu fico impressionada. Andar no campus é uma delícia, você vê mulheres propagando a causa por toda a parte. A multiplicação do movimento feminista vem pela universidade, mas agora essa questão já está muito fincada. Esse feminismo do século XXI passa pela ampliação da população universitária brasileira, embora seja permeado pela sociedade como um todo, na medida em que as redes sociais contribuem muito para essa efervescência — avalia a feminista.
Com um texto recente sobre o PIB per capita feminino, feito em parceria com as economistas da UFF Lucilene Morandi e Ruth Dweck, Hildete disserta sobre a diferença salarial entre os sexos.
— A escolaridade não é suficiente para dar maioridade salarial às mulheres. Apesar de a escolaridade das mulheres ser maior, quanto mais educada é a mulher maior a diferença salarial entre um homem na mesma situação — ressalta a professora, lembrando da dificuldade de discutir gênero entre seus pares na Faculdade de Economia. — A vida inteira construí pesquisas com assuntos econômicos e, em paralelo, a questão da mulher. Aos poucos, fui alinhavando os assuntos. Na economia, as mulheres sempre foram simpáticas ao feminismo, mas não eram militantes da causa. Não conseguia implantar o núcleo lá, não tinha aderência. Só em 2016 desenvolvemos um projeto grande sobre mulher na política, e esse projeto permitiu fazer uma agregação com outras professoras, como a Lucilene e a Ruth.